No Brasil, mesmo com o surgimento as fintechs e seus bancos digitais, as agências bancárias mais tradicionais ainda controlam boa parte das operações no país. Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal, juntos, foram responsáveis por 81,8% dos empréstimos em 2020, segundo o Relatório de Economia Bancária do Banco Central. O número de depósitos também não fica muito atrás, com 79,1% das transferências concentradas nesses cinco bancos. Esses dados mostram o quanto a economia de milhões de brasileiros está consideravelmente centralizada em poucas instituições, dificultando o acesso a serviços bancários mais baratos e de maior qualidade. Enquanto as fintechs continuam lutando por uma fatia deste mercado, as criptomoedas e a tecnologia blockchain parecem já ter dado conta de suprir boa parte das necessidades dos usuários de serviços bancários tradicionais e preencher uma lacuna gigantesca neste setor, por meio das finanças descentralizadas, também conhecidas como DeFi.
O que é um DeFi?
Enquanto o Bitcoin se tornou uma criptomoeda de reserva e transferência de valor, o Ethereum surgiu, em 2015, para oferecer uma variedade de possibilidades, antes, se não impossíveis, pouco eficientes no blockchain gênesis. A partir daí, foram desenvolvidos os smart contracts – contratos inteligentes. Essa ferramenta permite, entre várias funções, criar produtos de DeFi.
Basicamente, os DeFi funcionam como operações financeiras tradicionais, que um banco comum também oferece, como empréstimos, transferências e pagamentos. A grande diferença é que isso ocorre de uma forma descentralizada e imutável, por meio de um blockchain. Desta forma, não há um agente intermediador dessas negociações, mas, sim, as próprias partes envolvidas. A segurança de cada operação DeFi ocorre graças a esses contratos inteligentes. Em resumo, eles são programas autoexecutáveis, que listam todos os termos do acordo.
Com os DeFi, uma pessoa pode emprestar dinheiro de outra, sem qualquer intermediário, mas ainda com a segurança dos smart contracts. Isso não só garante os direitos de cada parte, mas também exclui as altas taxas das instituições financeiras tradicionais. Os DeFi, portanto, se baseiam em um ecossistema financeiro global descentralizado, independente, com menos burocracia e custos mais baixos.
Principais aplicações DeFi
Se um banco pode oferecer empréstimos, pagamentos e até compra de ativos, por que uma solução de finanças descentralizadas também não poderia? E é aí que muitos especialistas continuam não só desenvolvendo seus produtos já existentes, mas também criando possibilidades para os DeFi.
Exchanges descentralizadas
Também conhecidas como DEX, elas funcionam como corretoras tradicionais de criptomoedas, porém, sem a necessidade de um intermediador. No caso, as negociações ocorrem no chamado peer-to-peer, em que as partes envolvidas realizam o acordo entre si.
Ao contrário das exchanges centralizadas, como Mercado Bitcoin e Binance, que possuem uma equipe por trás, controlando cada compra e venda, as corretoras baseadas em DeFi são controladas por algoritmos e contratos inteligentes. Novamente, segurança, garantias e taxas baratas estão na mesa, assim como até uma pseudoanonimidade. Uniswap (UNI) e Pancake Swap (CAKE) são dois bons exemplos de DEX.
Empréstimos em DeFi
Como explicado no início deste artigo, usuários de DeFi podem, facilmente, emprestar valores, sem a necessidade de um intermediário. Assim, é possível criar uma espécie de banco ou financeira descentralizada, também regida por smart contracts. A MakerDAO e Compound atuam nessa área.
Stablecoins
A discussão de que o Bitcoin poderia não ter lastro não é de hoje. Embora o argumento seja fraco e não se sustente mais, a narrativa persiste ainda nos últimos anos. As stablecoins, em contrapartida, não passam por esse problema.
Por meio do DeFi é possível criar criptomoedas pareadas em algum outro ativo, como ouro, prata ou até moedas fiduciárias, como dólar, real e euro. Talvez as duas moedas digitais mais conhecidas atualmente sejam o Tether (USDT) e USD Coin (USDC). Elas são lastreadas no dólar norte-americano. Assim, cada token valerá sempre US$ 1.
Vantagens do DeFi
Quem já precisou realizar um financiamento, emprestar dinheiro do banco ou qualquer outro serviço um pouquinho mais elaborado do que os apresentados no caixa eletrônico sabe a dor de cabeça que é. O DeFi, então, consegue solucionar boa parte dos problemas que o sistema financeiro tradicional ainda segue sem direção.
Custos
As taxas cobradas pelas operações em DeFi são consideravelmente mais baratas das que as praticadas pelos bancos e instituições tradicionais.
Universal
Se muitas vezes os bancos já limitam por agência o que você pode ou não fazer, imagine se as operações precisassem ocorrer para fora do país. Com o DeFi, por não existir um órgão centralizador, qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode ter acesso a esses serviços financeiros.
Renda DeFi
Os empréstimos realizados geram, evidentemente, juros e consequentemente lucro ao usuário. Da mesma forma, manter o ativo em determinada plataforma para promover liquidez também fica passível de rendimentos de juros.
Com toda essa atratividade, é comum que existam golpes ou até mesmo invasões. Embora toda a tecnologia DeFi esteja vinculada a algum blockchain, há plataformas ainda muito novas e muitas falhas. Por isso, ao procurar por serviços DeFi, certifique-se do histórico daquele blockchain, das pessoas envolvidas no projeto e analise o volume de operações. Medidas cautelosas são importantes neste momento para evitar possíveis prejuízos por pessoas mal-intencionadas.