Não é novidade para ninguém que o cenário macroeconômico está impactando negativamente o mercado de ações tradicionais e também o de criptomoedas. Mesmo assim, a busca por itens colecionáveis, por meio dos tokens não fungíveis (NFTs) segue ainda sendo o mote de muitas pessoas. Para se ter uma ideia, no ano passado, pesquisas estimam que foram movimentados US$ 40 bilhões em transações com NFTs. Se considerarmos os jogos em blockchain, esse valor pode ser elevado em US$ 5 bilhões. O consumo também é crescente em vários países, com o Brasil sendo o segundo maior consumidor da tecnologia. Porém, os itens colecionáveis nesse modelo digital estão ganhando uma nova roupagem, podendo sofrer alterações ao longo do tempo, por meio de condições externas ou até mesmo por atitudes de seus proprietários dentro de um blockchain. É aqui que começa a era dos NFTs dinâmicos, em que os itens sofrem influência de diversos fatores, se modificam e se tornam ainda mais raros.
O que são os NFTs?
Antes de explicar o que são os NFTs dinâmicos, é importante voltar ao básico e destacar o conceito principal por trás da tecnologia dos tokens não fungíveis.
Em primeiro lugar, um item fungível é aquele que pode ser substituído por algo de mesma espécie, qualidade ou quantidade. Ok! O que isso quer dizer? Sabe quando você leva suas moedas ao pedágio ou algum estabelecimento comercial para trocá-las por cédulas de papel? Isso é um item fungível. Aqui, você pode trocar, por exemplo, moedas de diversos valores por notas que correspondam ao mesmo valor. Em outro exemplo, é como se fosse trocar uma cédula de R$ 100 por duas de R$ 50 ou cinco de R$ 20.
Já os bens não fungíveis são aqueles que não podem ser trocados ou fracionados. Não há nenhum item no mundo que possa substituir o quadro da Mona Lisa, por exemplo. Mesmo que fosse possível comprá-lo, a rara obra de arte e o dinheiro não são a mesma coisa, ou seja, a pintura não pode ser substituída igual ele.
É nesta categoria, que os NFTs funcionam. Os tokens não fungíveis, nada mais são, do que uma representação digital de algum item, produção, quadro, fotografia, vídeo, projeto, ideia. Para isso acontecer e garantir a posse desse objeto exclusivo e raro a alguém, os desenvolvedores inserem um contrato inteligente no código computacional de uma criptomoeda. Rastreável e imutável dentro de um blockchain, essa moeda digital se transforma, então, em um NFT.
E como funcionam os NFTs dinâmicos?
Como os NFTs estão vinculados a itens raros, como obras de arte, músicas, fotografias e imagens, é muito natural pensar que esses objetos são imutáveis e estáticos. Porém, com o desenvolvimento dos NFTs Dinâmicos essa história muda e muda bastante.
Também conhecidos como “NFTs vivos”, os NFTs dinâmicos são passíveis de mudanças por diversos fatores, como passagem dos anos, mudanças externas na sociedade ou planeta, eventos importantes ou até mesmo ações de seu detentor dentro de um blockchain. “NFTs vivos oferecem formas empolgantes para que holders liguem seu comportamento e ações na blockchain — e na vida real — com os NFTs que colecionam”, comentou o líder de marketing da Zerion, Alexander Guy, ao portal Decrypt.
Talvez fique mais claro se utilizarmos como exemplo a famosa coleção de NFTs dos macaquinhos da Bored Ape Yacht Club. Para refrescar a memória do que estamos falando, lembram que o atacante da seleção brasileira, Neymar, pagou R$ 6 milhões na imagem do animal em desenho para usar como avatar de suas redes sociais? É sobre isso!
Essas imagens são NFTs “comuns”, ou seja, imutáveis. Mas vamos imaginar que eles tivessem a característica viva dos NFTs dinâmicos. Este macaquinho, por exemplo, poderia ganhar um chapéu novo conforme as estações do ano passassem: uma viseira no verão, um gorro no inverno, uma boina no outono e um boné na primavera. Ao mesmo tempo, o avatar poderia vestir a camiseta do próximo campeão da Copa do Mundo de Futebol da FIFA, que se encerra em dezembro deste ano. Ou então, ao realizar um número X de transações dentro de um blockchain ou participar de alguma votação, o Bored Ape poderia receber um selo ou um acessório indicando a ação realizada na plataforma.
Perceba, então, que esse NFT dinâmico pode sofrer influências diversas, tornando os tokens cada vez mais raros, a depender do comportamento de seu dono ou acontecimentos no mundo real.
Já existem NFTs Dinâmicos?
Embora essa perspectiva ainda seja uma novidade, os NFTs dinâmicos existem há pelo menos dois anos atrás. Um dos mais conhecidos artistas digitais, o Beeple, experimentou dar vida a sua obra Crossroad. A produção, vendida no final de 2020, passaria por uma transformação a depender do resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos.
Na época, em caso de vitória e consequente reeleição de Donald Trump, o NFT dinâmico passaria a mostrar o então presidente correndo por um cenário infernal como se fosse o famoso monstro Godzilla. Como não foi isso que aconteceu, a imagem, hoje, apresenta o corpo de Trump com diversas marcas e inchado, apodrecendo em um parque.
O grande lance de Beeple, aqui, foi mostrar que os NFTs podiam, sim, ser transformados, a partir de códigos computacionais e contratos autônomos programáveis, desenvolvidos previamente. Isso permite que os NFTs vivos se atualizem conforme sua programação.
Toda essa novidade ainda passa por diversas experimentações. Porém, elas abrem espaço para que os artistas mantenham suas obras renováveis e atualizadas ao longo da história. Com isso, a tecnologia voltada para itens raros passa a levar características ainda não existentes no mundo real, podendo aumentar ainda mais a sensação de exclusividade sobre os objetos disponíveis em NFTs.