Embora a proposta de Satoshi Nakamoto para o Bitcoin não fosse torná-lo, necessariamente, um investimento, é difícil falar da criptomoeda sem citar essa característica. Afinal, seja você um detentor de ativos digitais ou ações de empresas na bolsa de valores, com certeza a compra e venda desses “papéis” ocorre por meio de uma corretora. Na bolsa de valores brasileira, por exemplo, há uma plataforma acessível aos inscritos, podendo operar, dentro de um período, suas posições. Fechado o mercado, as ações ficam paralisadas até a reabertura no próximo dia útil. A existência desse poder central ajuda, de certa forma, a concentrar e até regular as operações. Mas há, porém, quem prefira negociar suas aplicações “por fora”. Essa modalidade, que também oferece uma intermediação, é chamada de OTC, sendo muito comum no mercado de criptomoedas.
Over the Counter
Imagine que um cliente tenta comprar um produto em uma loja virtual, sem a necessidade de atendentes, cumprindo as normas descritas pelo site. Porém, ele decide ir até o estabelecimento físico para provar o item. Lá, ele decide, então, pela compra, mas “chora um descontinho” e diz que vai pagar em dinheiro. O atendendo consegue, mesmo com a centralização da loja, aplicar um desconto ao cliente na negociação. Ambos saem felizes no final do dia.
Algo semelhante ocorre no mercado tradicional. Para negociar uma ação, não necessariamente ela precisa ficar restrita ao horário nem às regras de funcionamento da bolsa, muito menos pública no livro de ordens da corretora. Para isso, os investidores utilizam o chamado Over the Counter (OTC), também conhecido como Mercado de Balcão.
Aqui, vendedores e compradores, por meio de uma corretora, fazem uma negociação “paralela”. Assim, em vez do cliente X adicionar uma ordem de venda no livro e aguardar uma ou mais pessoas executarem sua posição, ele pode negociar diretamente com uma única pessoa, variados volumes e preços, de maneira mais “rápida” e condições diferenciadas.
E é vantagem esse OTC?
Para quem já operou, alguma vez, na bolsa de valores ou corretora de criptomoedas, sabe que a compra e venda nem sempre é tão rápida quanto gostaríamos. Para adquirir uma ação, por exemplo, é preciso adicionar uma ordem de compra, indicando a quantidade e preço desejado. É preciso, então, que outros investidores estejam dispostos a vender o valor estabelecido e também tenham volume o suficiente para cumprir a posição.
Além do suprimento de ordens, as próprias regras dentro do mercado tradicional também são mais rígidas. Nele, o envio de recursos, prazo para recebimento de ativos, entro outros fatores se tornam um pouco mais restritos. Tudo isso, entretanto, não acontece no OTC, já que a flexibilidade entre os interessados prevalece na negociação. Desta forma, não só os volumes não ficam limitados, como também a negociação não precisa ficar presa ao valor da cotação do mercado eletrônico.
OTC para criptomoedas
As exchanges, assim como as bolsas de valores, surgiram para tentar regular a negociação de criptomoedas. As plataformas aplicam uma camada extra de segurança para compradores e vendedores, não só garantindo as operações, mas também organizando o mercado, levando liquidez e até um serviço de custódia.
No caso das negociações de criptomoedas via OTC, elas podem ocorrer ou não por meio de uma corretora. Há exchanges, hoje, que fazer uma espécie de intermediação. Por exemplo, uma operação de balcão na plataforma pode exigir que o vendedor deposite à corretora o montante combinado de venda, enquanto o comprador envia o valor monetário correspondente à negociação. Com ambos os ativos em mãos, a corretora destina às partes o que lhes é de direito.
Essa mesma negociação pode ocorrer fora de um ambiente regulado. Hoje, as carteiras digitais são facilmente encontradas e acessíveis. Wallets da Metamask, Exodus e das próprias exchanges, como Binance, podem receber Bitcoin e uma série de outras moedas digitais. Por ali mesmo, é possível realizar a transferência do ativo para outra carteira, sem grandes complicações. A segurança, entretanto, fica reduzida, pois não há um intermediador garantido que, caso o comprador não pague pelo ativo, suas criptomoedas estarão intactas e serão devolvidas.
Em resumo, o OTC é uma ótima alternativa para quem quer comercializar suas criptomoedas, sem se preocupar com volume, preço do mercado geral e preenchimento de ordem. Porém, a negociação, dentro de uma plataforma, costuma ser mais eficiente e segura, garantindo a ambas as partes seus direitos.