No Brasil, a emissão de moedas e cédulas de papel do Real é responsabilidade da Casa da Moeda (CMB), órgão ligado diretamente ao governo federal. No ano passado, a instituição, segunda mais antiga do país – atrás apenas dos Correios – completou 327 anos. Com sua capacidade de produção anual de 3 bilhões de cédulas, 4 bilhões de moedas, 8 bilhões de selos fiscais e 3 milhões de passaporte, a CMB operou com força total em 2020. Por conta dos impactos da pandemia, a produtora trabalho a pleno vapor, imprimindo 600 milhões de cédulas a mais do que a projeção inicial, estimada em 1,8 bilhão do papel oficial. A emissão é controlada pelo governo e Banco Central, que determinam quanto e quando novas moedas serão impressas. Algo parecido vem acontecendo nos Estados Unidos, também como resposta aos efeitos da pandemia da COVID-19. Embora a facilidade permita que a população e até mesmo os gastos públicos tenham acesso a recursos, economistas se preocupam bastante com a inflação que esse tipo de atuação pode levar ao mercado. No caso do Bitcoin, a emissão ocorre de forma diferente, bem mais tecnológica e com uma proteção importante para esse problema que as moedas tradicionais podem enfrentar, chamada halving.
Como ocorre a emissão de Bitcoin?
Se nas moedas tradicionais, como o real e dólar, é preciso uma demanda do Banco Central e impressoras especiais para garantir a veracidade das moedas, o Bitcoin exige, apenas, que os mineradores estejam operando.
Os mineradores são aqueles que instalam o software da criptomoeda em seus computadores e “emprestam” o poder de processamento das máquinas para elas realizarem uma série de cálculos matemáticos, que vão validar as transações de moedas dentro da rede. No caso do Bitcoin, esses “trabalhadores” recebem o token como recompensa pelos serviços prestados. É neste processo em que o Bitcoin é emitido.
Mas como é controlado o risco de inflação?
Para conter a crise do novo coronavírus, os Estados Unidos foram um dos campeões em emissão de dinheiro. Só em 2020, foram US$ 3 trilhões – cerca de 21% de todo o suprimento de dólar no país. Isso só foi possível, pois o governo e o Banco Central detêm o direito de emitir quantas moedas acharem necessárias. Se por um lado ameniza parte da crise, por outro, gera um aumento de inflação, pelo menos no curto prazo.
No caso do Bitcoin, esse problema inexiste. Satoshi Nakamoto, possível pseudônimo do criador da criptomoeda, escreveu, no código de programação do ativo, que será emitida um total de 21 milhões de unidade. A partir deste número, nenhum outro Bitcoin será gerado a partir da mineração, existindo apenas os que já estão em circulação ou perdidos em carteiras inacessíveis. Além disso, o programador criou um mecanismo chamado de halving, que fez com que a criptomoeda fosse inflacionária para, ao longo do tempo, se tornasse deflacionária.
O que é o halving?
Em 2009, os mineradores da rede recebiam 50 Bitcoins por bloco minerado – conjunto de transações validadas pelos computadores. Esse valor, gerou um acúmulo por esse grupo da criptomoeda. Entretanto, o processo de halving reduz pela metade esses ganhos. Em 2012, por exemplo, eram 25 BTCs enviados como recompensa a este grupo. Em 2016, o volume caiu para 12,5 unidades, até, em 2020, o último halving, cortar para 6,25 Bitcoins.
Esse processo ocorre a cada 210 mil novos blocos mineradores na rede, o que leva, mais ou menos, quatro anos, e serve para tornar o ativo deflacionário. No início, “dar” mais moedas era fundamental para manter os nodes de mineração engajados na tarefa. Porém, a redução na emissão, após um certo período, passou a ter função de incentivo ao armazenamento do Bitcoin, já que o token ia se tornando cada vez mais escasso, já que havia menos criptomoedas disponíveis no mercado, assim como na própria mineração.
Halving e os US$ 65 mil
Enquanto a economia global sofria um baque forte, por conta da pandemia da COVID-19, em 2020, o setor de criptomoedas teve um desempenho bastante interessante e que, de certa forma, foi na contramão da velocidade da recuperação financeira. Até hoje, muitas bolsas e empresas sofrem para recuperar perdas durante a crise. Já o Bitcoin não só se levantou do momento de queda, como também buscou um máximo histórico de US$ 65 mil – quebrando, com folga, o último topo de US$ 20 mil.
Analistas de criptomoedas colocam essa subida de preços na conta do halving. Conforme ativos tradicionais, como o próprio ouro, perdiam força, o Bitcoin ia se tornando cada vez mais escasso. O choque entre oferta e demanda foi nítido, existindo cada vez menos unidades da criptomoeda disponíveis para compra. Com o próximo halving previsto para acontecer em maio de 2024 – uma redução para 3,25 Bitcoins aos mineradores – estima-se que um valor entre US$ 100 mil e US$ 250 mil seria bastante possível para a criptomoeda.