Com os expressivos aumentos de preços do Bitcoin e um enfraquecimento constante do Real, em meio a uma crescente inflação, o brasileiro está cada vez mais se sentindo atraído pelas criptomoedas. Um levantamento da gigante de pagamentos Visa apontou que mais de 30% das pessoas no país utilizam criptomoedas de alguma forma, seja como investimento, transferências de valores ou pagamentos. A primeira modalidade, inclusive, teve um “boom” enorme, no último ano. Dados da gestora Hashdex mostrou que houve um crescimento de 1.266% no número de investidores expostos a fundos ou ETFs de moedas digitais, em comparação a 2020. Em números mais palpáveis, o salto foi de 30 mil participantes para 410 mil. Mesmo com um acesso facilitado por meio de corretoras, os brasileiros, agora, estão procurando outras maneiras de colocar as mãos em algumas criptomoedas, sem grande esforço. A principal forma encontrada, hoje, é minerar Ethereum. Porém, será que ainda vale a pena?
Mineração de criptomoedas
Ao fazer um depósito via envelope no caixa eletrônico do banco, é preciso que algum funcionário, no final do expediente, abra os malotes e confira se o valor das cédulas é o mesmo do descrito na operação digital. Após a validação, o dinheiro é, enfim, alocado na conta do destinatário. Esse processo não só é passível de erros humanos, mas também demorado.
No caso das criptomoedas, como Bitcoin e Ethereum, essa conferência de dados é feita de forma completamente eletrônica, por meio do processo chamado mineração. Nessas duas moedas digitais, em que seus blockchains são públicos e descentralizados, qualquer pessoa com um computador e acesso à internet pode se tornar um minerador. Basicamente, o usuário instala o software de determinada cadeia de blocos e empresta o poder computacional de suas máquinas para fazer a análise de cada transferência na rede, por meio de complexos problemas matemáticos. Assim que os dados são verificados e confirmados, o primeiro minerador a completar a tarefa ganha o direito de escrever o bloco de transações no blockchain e, assim, ser recompensado pela atividade. No caso do Bitcoin, hoje, a recompensa é de 6,25 BTCs.
É fácil minerar Ethereum ou Bitcoin?
O ambiente necessário para se tornar um minerador exige muito estudo e investimento de hardware. Como comentado acima, a mineração é um processo competitivo, já que apenas o primeiro a validar um número X de transações poderá escrever o bloco na rede e, então, ser recompensado. Desta forma, quanto mais potente for o computador, mais rápido os cálculos serão feitos e maiores as chances de o bloco ser aprovado primeiro.
Esse desempenho todo, entretanto, exige um enorme investimento financeiro. Embora existam máquinas específicas para a minerar Ethereum e Bitcoin, elas são compostas, basicamente, por uma placa mãe, memória RAM e várias placas de vídeo de alto processamento. Essas peças, com o atual preço do dólar e falta de peças no mercado, somariam facilmente R$ 50 mil. Mas o aporte não para por aí. O consumo de energia elétrica desses componentes é grande, levando a uma conta de eletricidade igualmente expressiva.
Com todos esses gastos, vale a pena minerar Ethereum ou Bitcoin no Brasil?
A recente crise hídrica e os contratos com as termoelétricas fizeram com que o preço da energia no país e o custo do KW/h subissem consideravelmente. No caso do Bitcoin, é praticamente impossível um participante individual conseguir minerar um bloco sozinho. Afinal, a rede está tão bem estruturada nessa área, que há as chamadas “fazendas de Bitcoin” espalhadas pelo mundo, em que centenas ou milhares de computadores estão conectados ao blockchain, trabalhando 24 horas por dia. Geralmente, esses grupos estão alocados em regiões onde há grande fonte de energia renovável, mas principalmente, barata.
O Ethereum, entretanto, ainda pode ser uma possibilidade para os brasileiros. O blockchain, embora também muito estruturado e descentralizado, possui mais funcionalidades, aumentando as chances das pessoas que querem minerar Ethereum. Os gastos e modelo competitivo estão presentes, mas de forma mais distribuída. No Brasil, segundo o Portal do Bitcoin, há pessoas que estão fazendo renda extra com a mineração de criptomoedas. Vale lembrar, porém, que os ganhos a partir desta atividade estão relacionados ao valor da moeda digital no mercado. Ou seja, com a recente queda de preços entre os ativos digitais, o custo-benefício em minerar Ethereum ou Bitcoin pode sofrer alguns desbalanços.
Vai minerar Ethereum? Calma lá!
Antes de sair por aí comprando máquinas específicas para minerar Ethereum, é importante conhecer um pouquinho mais a fundo os processos da criptomoeda. O blockchain do Ethereum, hoje, trabalha no modelo Proof of Work (PoW). É justamente este “algoritmo de consenso” que leva à mineração da moeda digital, por meio dos computadores, e sua consequente recompensa.
Porém, está estipulado para este ano a atualização do Ethereum 2.0. Entre as grandes modificações para o blockchain, está a mudança para o algoritmo de consenso Proof of Stakes (PoS). Neste caso, o minerador não precisa mais de um desempenho impecável de seus computadores, mas, sim, de tokens Ethereum que são usados como garantia para as validações. Quando concluído, portanto, minerar Ethereum como conhecemos hoje será bastante diferente. Por isso, é importante estar preparado para fazer a mudança quando a novidade chegar!
Para os que se interessaram em minerar Ethereum, antes de qualquer compra ou aventura, estude a criptomoeda, seu blockchain, os funcionamentos e custos de se tornar um minerador. Passos em falso podem gerar um grande prejuízo financeiro.